terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Matemática: número por número.

No início do ano, depois de vencida a etapa de alfabetização, a matemática se tornou nosso maior desafio. O Tony, nosso filho diagnosticado dentro do espectro autista, só sabia contar até 10. As crianças da sala dele já estão adicionando, subtraindo, multiplicando e dividindo. Eu, como mãe, fiquei muito preocupada com essa defasagem em relação às outras crianças. Daí que começa nosso questionamento. Temos que ter muito cuidado com esse tipo de sentimento, de que eles estão em déficit em relação à turma por alguns motivos bem simples:
Eles não têm o mesmo padrão de desenvolvimento. Aprenderam a falar mais tarde e a matemática acabou ficando em segundo plano (pelo menos foi assim para o Tony).
Eles têm um estilo de aprendizagem completamente diferente. Aprendem mais devagar e precisam de mais incentivos.
A concentração dele também é mais dificultada. A mim parece que ele tem um cérebro super excitado, sempre processando imagens e desenhos, que são seu forte, e eu tenho que esperar pelo seu momento de concentração.

Resolvi então ir bem devagar. Comecei reforçando os numerais de 1 a 10. Peguei um material para crianças da educação infantil (o Tony já está no fundamental I) e fomos número por número. E fui gradativamente adicionando novos números. Conseguimos ver a cada dia dois novos números. Hoje ele está contando até 19.

Essa semana vamos começar a ver os números a partir do vinte e ensinar a lógica da recontagem. Ele precisa entender que a cada nova etapa, 30,40,50, a gente recomeça do 1 para formar novos pares.

É muito importante conhecer a sequência dos números e a noção de quantidade para entender a lógica matemática.

Outro ponto muito importante é trabalhar com material concreto. Nosso Tony trabalha muito bem com material dourado e bolinhas de gude para ter noção de quantidade. Importante também envolver no processos coisas que sejam do interesse da criança. Por exemplo, o Tony é desenhista então ele vai desenhar os numerais, ele faz boquinhas e pesinhos nos numerais, isso ajuda na memorização das formas dos algarismos.

Para finalizar, nunca desistir e achar que a criança não está aprendendo. Mesmo que o processo seja muito lento, temos que persistir e acreditar que vai acontecer. O processo é lento e tem que ser constante, não podemos dar longos intervalos entre as aulas. Não podemos tornar a atividade chata, paciência é o segredo do negócio.


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Alfabetizar: Um desafio que precisar ser enfrentado!

Alfabetizar uma criança é, em si, um grande desafio. Ele  se torna ainda maior quando pensamos em uma criança que possui atraso na aquisição da linguagem verbal. É bastante difícil lidar com a falta de concentração e interesse pela aquisição da leitura. Todavia é importante ACREDITAR e INVESTIR, só assim seu filho (independente de ter um diagnóstico) pode transpor esse obstáculo e se tornar um leitor.
Nosso filho foi diagnosticado com transtorno Global do desenvolvimento e adquiriu fala apenas aos cinco anos e meio. Logo, durante toda a primeira infância, nosso filho não conseguia comunicar-se verbalmente. Consequentemente, isso traz algum prejuízo para a aquisição de leitura que, para a maioria das escolas, é condição para reprovar o aluno no primeiro ano. Nós insistimos nessa questão, pois acreditávamos no potencial do nosso filho e, mais do que isso, uma criança com TGD apresenta atraso no desenvolvimento, daí a importância da convivência com crianças da mesma idade, a fim de trabalhar a relação com o outro e incentivar seu desenvolvimento em diversas áreas. Foi então que arregacei as mangas e fui estudar. Li bastante sobre métodos alternativos para alfabetizar e até encontrei alguns bem interessantes. Vou contar então como em 4 meses nosso filho adentrou o mundo da leitura para nunca mais sair. Hoje vou descrever como iniciamos essa fantástica jornada. A princípio planejei da seguinte forma:

Dia 1 de atividades de escrita - Tony
O objetivo é que ele consiga apreender a escrita dos nomes dos personagens do desenho do Bob esponja. Sabendo que ele já sabe escrever o nome do bob esponja e que sabe até alguns nomes bem difíceis e em inglês de alguns outros desenhos. Uma vez que ele não é uma criança alfabetizada, parto do pressuposto de que ele usa memória visual para executar essa escrita. Sendo assim, pensei na sequência.
Sequência de atividades número 1 – apreender a escrita dos nomes dos personagens do desenho do Bob Esponja.
Passo 1- Mostrar figuras dos personagens e emparelhar com seus respectivos nomes escritos. Os nomes estarão em letra bastão caixa alta para facilitar o reconhecimento das letras. Primeiro vou mostrar a figura e associá-la ao nome. Vou ler em voz alta e estimular que ele leia também, manuseie à vontade.
Passo 2- Mostrar apenas os nomes. Ler em voz alta e pedir que ele leia também. Mostrar cada nome separadamente e depois coloca-los sobre a mesa e pedir que associe o som com o nome.
Passo 3- Colocar os nomes sobre a mesa e pedir que ele associe as figuras aos nomes.
Passo 4- Colocar as figuras sobre a mesa e pedirei que faça o movimento contrário.
Passo 5- Esconder os nomes pela casa para que ele procure. Tornar isso uma atividade divertida, podendo ter o envolvimento da irmã para tornar a brincadeira mais interessante.

Passo 6- Executar  a tarefa com escrita.  Fazer atividade de palavra cruzada utilizando apenas os nomes dos personagens para ele completar sozinho.
 
Esse foi o primeiro passo, continuarei falando de como chegamos à leitura e colocarei aqui algumas tarefas que foram utilizadas com sucesso. Vou anexar as tarefas que utilizamos para dar uma inspiração a mães que queiram iniciar essa caminhada! Beijos!
 

domingo, 7 de setembro de 2014

Fono: a parceria que faz a diferença!

Parceria, uma palavra muito importante para todas as famílias que enfrentam a dificuldade no desenvolvimento da fala de suas crianças. Em seu primeiro ano de vida, nosso filho dizia pequenas palavras como: oi, água, mãe e; mais ou menos com 1 ano e 8 meses, ele parecia ter esquecido estas palavras, começou a viver um mundo à parte e silencioso, aparentava não estar interessado em falar. Na verdade, esse era o nosso maior indício de que algo estava errado, pois ele sequer apontava para os objetos que desejava, a comunicação simplesmente não acontecia. O médico pediatra nos aconselhou a colocá-lo na escola, pois lá ele teria melhores condições de desenvolver a fala. No entanto, foi muito diferente, a escola trouxe à tona comportamentos que em casa passavam despercebidos. Intolerância a determinados barulhos, busca do isolamento, não conseguir olhar as pessoas nos olhos e uma profunda irritação, acredito que o fato de não se comunicar contribuía bastante para isso.
A primeira fono que nos atendeu não conseguiu manter um relacionamento com o Antônio, ele bloqueava a presença dela. Era muito frustante e parecia perda de tempo, com algumas semanas ela me disse que não sabia lidar com ele e meio que deixou claro que não queria prosseguir. Fiquei muito desapontada e fui em busca de outros profissionais. Dentre muitas que busquei, uma em especial me chamou bastante a atenção. Ela conversou comigo sobre o problema dele, deixou claro que só atenderia mediante um diagnóstico fechado. Daí conversamos sobre autismo e ela me disse que seria muito difícil ele falar, ele já estava com quatro anos e "eles" pioravam muito com cinco anos, mas que ela ensinaria ele a se comunicar por gravuras e gestos. Isso foi o maior absurdo que já ouvi em toda a minha vida. Saí de lá e nunca mais voltei, como ela poderia já dar um quadro tão negativo sem sequer conversar com ele. A Palavra autismo já traz em si tantos estereótipos que às vezes parece atrapalhar muito mais que ajudar.
É preciso encontrar profissionais despidos de estereótipos e que, antes de qualquer julgamento prévio, converse com a criança e acredite nela. O Tony encontrou uma grande parceira na conquista da fala. A fono que nos atende hoje não apenas acreditou no Tony, como é uma das grandes responsáveis por ele hoje falar bem! Então existem alguns aspectos muito importantes a se levar em consideração:
1 - Jamais desista de procurar a profissional ideal para sua criança.
2 - Não acredite em tudo que te dizem, busque sempre várias opiniões, converse com a psicóloga.
3 - Mantenha a frequência no tratamento de fono, pois sem constância fica muito difícil.
4 - Converse com sua criança, mesmo que ela não responda. Ela precisa entender que o maior desejo da sua vida é vê-la falar. Não se preocupe em parecer boba, todas as mães são bobas de tão loucas por seus filhos!
Agradeço muito os profissionais maravilhosos que nos ajudam diariamente nas conquistas do nosso pequeno. Caso necessite de indicação para fono, psicóloga ou psicopedagoga, basta deixar um comentário. Beijos e até a próxima!

sábado, 16 de agosto de 2014

Quem tem medo do autismo?

“Seu filho é autista”. São palavras difíceis de esquecer, às vezes ficam para sempre, o rosto do médico girando nas cabeças de mães e pais que recebem a notícia mais difícil de suas vidas, mas cinco anos após passar por isso me pergunto: Precisa ser um fim? Existe mesmo “o ser autista”? Será que não podemos enxergar um pouco mais adentro e repensar essa experiência?
Quando recebi o diagnóstico de autismo para meu filho, que estava então perto de completar três anos, paralisei. Não sabia o que pensar e, muito menos, o que fazer. Fiquei completamente perdida nas palavras da neuropediatra. “Distúrbio Mental”, “Autismo”, “Asperger”. Era só no que eu pensava.  Fui para internet pesquisar, e nada melhorava a situação. Todos os sites tratavam de incapacidade de ter vida independente, insucesso escolar, dificuldade de manter laços afetivos e convívio social. Minha família estava estática, com medo e sem saber o que fazer, ou até pior, procurando culpados. Tudo parecia perdido, até chegarmos a uma profissional que mudaria esse quadro drasticamente. No lugar do fim, ela nos sugeriu um novo caminho, difícil e desafiador, mas novo e cheio de perspectivas. Um caminho que tem se concretizado em conquistas e nos levou do medo à esperança. Meu filho não era “um autista”, meu filho era meu filho, que tinha dificuldades e obstáculos, mas que também possuía muito potencial e amor para dar e receber e era nisso que a gente precisava se segurar, seria nosso bote salva-vidas.
Quando digo isso, alguns podem até pensar que foi fácil e que do dia para noite tudo ficou colorido, mas foi bem o oposto disso. Meu filho não dormia, acordava às 2h da manhã gritando e assim permanecia, às vezes por horas, nada o consolava. Ele serrava os olhos e nada o fazia parar de gritar, houve muitas vezes que o coloquei no carro e saí dirigindo pela cidade até ele dormir. 
Muitas foram as crises de choro, na escola era um pesadelo, se outra criança chorasse, ele ficava fora de si, gritando e se batendo no chão. Não atendia pelo nome e não falava uma única palavra sequer. Não nos olhava nos olhos, passava horas observando as rodinhas do carrinho girar e não gostava de ser beijado ou tocado na cabeça. Muitas vezes duvidamos que desse certo. Muitas vezes cansamos e choramos escondido. Muitas vezes ele parecia não fazer parte do nosso mundo e, o mais duro, parecia não nos reconhecer.
Quando as mães chegavam para buscar seus filhos, todas as crianças corriam para suas mães e contavam sobre algo que aconteceu. Meu filho parecia não me ver, não vinha na minha direção e não conversava comigo. Muitas vezes me senti menos mãe que aquelas mulheres, muitas vezes me culpei por aquela situação.
O tratamento psicoterápico do meu filho começou em 2009 quando ele tinha menos de dois anos e apenas depois de certo tempo, mais ou menos oito meses, é que começamos a ver resultados. Menos intolerância a frustrações, contato visual e comunicação não verbal. Com o tempo ele começou a interagir um pouco mais, dormir melhor e, com cinco anos e meio, ele começou a falar, isso mesmo, falar!
Desde então ele só tem progredido e agora está lendo! Ainda há muito que superar: sensibilidade ao som, lidar com os amigos da escola, apreender determinados conceitos abstratos, mas  acreditamos que ele vai superar tudo!
Mas essa história só é possível porque a psicóloga do meu filho disse: Ele vai falar, ele vai se alfabetizar, nós temos que apostar acreditar nas suas capacidades. Ele não é um autista, ele é o Antônio, um menino que tem um atraso no desenvolvimento, mas que pode evoluir. A gente precisa acreditar e buscar essa evolução.

Eu não tenho mais medo do “autismo”, tenho medo da maneira invasiva como ele chega às famílias, tenho medo dos profissionais que não estão preparados para o desafio, tenho medo da desinformação do sistema educacional. Sei que existem diferentes níveis de comprometimento e que a história individual de cada criança é que determina sua evolução, mas preciso contar minha história, a história do meu filho amado, e dizer que é importante buscar toda a evolução possível, com paciência e coração aberto. Acreditar sempre pode fazer toda a diferença!